quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Boicote a marca de macarrão é prova de que a homofobia é um veneno para os negócios

por Frederico Oliveira




Recentemente o presidente do Grupo Barilla, uma das maiores empresas fabricantes de macarrão do mundo, declarou que se recusaria a veicular em um comercial de sua marca uma família homossexual, incitando, inclusive, que se os gays não gostassem disso que procurassem outra marca. O presidente da marca de origem italiana Guido Barilla disse: "Eu não faria um comercial com uma família homossexual não por falta de respeito para com os homossexuais – que têm o direito de fazer o que quiserem sem incomodar os outros -, mas porque eu não concordo com eles e acho que nós queremos falar com as famílias tradicionais". E continuou em suas declarações dizendo: "O conceito de família sagrada continua sendo um dos nossos valores fundamentais." e, ainda, que "se os gays não gostarem, podem comer outra marca".  


#boycottbarilla

As referidas declarações foram feitas em uma entrevista concedida por Guido Barilla a uma rádio italiana, cujo tema era o papel das mulheres nas propagandas. Provavelmente a questão foi suscitada em razão das perniciosas contribuições das propagandas que continuam a promover a segmentação dos papéis femininos e masculino no machismo impregnado na sociedade italiana.  




As declarações de Guido provocaram uma reação em todo o mundo nas redes sociais. As hashtags #boicotabarilla, #boicottarebarilla #boycottbarilla demonstram a infinidade de protestos revoltosos com boicotes liderados pela comunidade gay, ativistas, simpatizantes e entidades de defesa de direitos humanos. Ivan Scalfarotto, um parlamentar italiano do partido democrático declarou que: "É deprimente que um homem de negócios acostumado a trabalhar e viajar ao redor do mundo diga o que Guido Barilla disse. Certamente não comprarei mais os seus produtos." 

#boicottarebarilla
Essas reações fizeram com que Guido pedisse desculpas em seu twitter: "Peço muitas desculpas por ter ofendido a sensibilidade de tantos. Tenho o mais profundo respeito por todas as pessoas, sem distinção." Além disso, um novo comercial foi divulgado na TV com a habitual família tradicional, seguida de uma  retratação do presidente da marca de seguinte teor: "Peço desculpas se meus comentários criaram mal entendido ou polêmica ou se eu ofendi alguém. Somente queria sublinhar o papel central da mulher na família.", conforme divulgou o Radar Econômico do Jornal o Estado de S. Paulo

É claro que essas desculpas não foram aceitas e sequer são suficientes para minorar a homofobia destilada pelo presidente da empresa. 

Uma coisa é certa, Guido Barilla menosprezou uma parcela de consumidores dos seus produtos, inclusive instigando-os a procurarem outra marca, acaso não estivessem satisfeitos com suas propagandas. Ora, essa parece ser uma atitude lamentável de um homem de negócios que tem a lucratividade como fator preponderante em seus objetivos. Um consumidor, independente de qualquer característica jamais deve ser menosprezado, e esse menosprezo rema contra a maré das estratégias de marketing voltadas para a conquista e fidelização de consumidores a produtos e serviços. 

"É deprimente que um homem de negócios acostumado a trabalhar e viajar ao redor do mundo diga o que Guido Barilla disse. Certamente não comprarei mais os seus produtos." Ivan Scalfarotto, parlamentar italiano

Hoje o consumidor está cada vez mais consciente e vem refletindo mais sobre o papel social dos fornecedores de produtos e serviços que adquire. Respeitar a diversidade sexual e considerá-la como uma realidade não é uma causa que beneficia apenas a população LGBT. A consideração à diversidade sexual é sinônimo de respeito ao consumidor que pode não ser gay, mas que com certeza tem um familiar, um amigo, um colega de trabalho que merece ser considerado e respeitado sem os escárnios estigmatizantes que só diminuem a estima social dessas pessoas. 

Desconsiderar e menosprezar potenciais consumidores é, a meu ver, sinônimo de insanidade que não condiz com as estratégias de gestão do mundo dos negócios. Com certeza, os concorrentes estão felizes da vida e já elaboraram estratégias mercadológicas de diferencial competitivo num mercado que não aceita indisposição com qualquer parcela de consumidor. Segue então nessa trilha a De Cecco que divulgou um anúncio com diversos formatos de massa que diz: "Noi siamo diversi!" e Garofallo no anúncio de que: "Para nós tanto faz com quem você faz (o macarrão), o que importa é que o faça al dente!


Divulgação
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Eu que há muitos anos consumo o macarrão Barilla também sigo no boicote e estou tendo a oportunidade de experimentar outras marcas que já conquistaram o meu paladar. Esse é um exemplo para o mercado de que o menosprezo à diversidade sexual é sem sombra de dúvidas um veneno para os negócios.


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