Cultura

Esta página é dedicada a cultura da diversidade sexual com dicas de filmes, peças teatrais e outras manifestações artísticas relativas ao tema. Não sou crítico de artes, mas tenho um gosto - modéstia parte - apurado pela experiência e pela vocação artística que tenho na pintura e na música que fazem parte dos meus hobbies.

FILMES

Flores Raras contribui para a visibilidade da homoafetividade

por Frederico Oliveira

Digno da premiação do Oscar, Flores Raras nos revela muito mais que um amor homoafetivo. O filme que entrou em cartaz nessa sexta-feira passada (16/08) é baseado em uma história real que nos revela a força da emancipação da mulher diante dos padrões sexistas da dominação masculina e a naturalidade do brotar da afetividade entre duas lésbicas de personalidades muito fortes e muito distintas. O filme impressiona na riqueza cinematográfica, tanto da fotografia, da trilha sonora, especialmente da direção e do roteiro, ao revelar o amor entre a arquiteta Lota de Macedo Soares com a escritora norte-americana Elizabeth Bishop, perfazendo um passeio no poema "One art" em que a escritora retrata a arte da perda.
Lota, interpretada pela espetacular atriz Glória Pires é uma arquiteta de pulso forte, objetiva e decidida que foi reconhecida por obras arquitetônicas importantes, especialmente o paisagismo do Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro. A atriz australiana Miranda Otto em brilhante atuação, deu vida à indecisa e tímida Elizabeth Bishop, uma das mais importantes escritoras da língua inglesa.   

Glória Pires e Miranda Otto são as protagonistas do filme 'Flores Raras', que conta a história de amor entre Elizabeth Bishop e Lota de Macedo Soares Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Mais do que a homoafetividade, o filme revela, ainda, um arranjo familiar que jamais seria aceito para os padrões sociais da época, não apenas pela orientação sexual das personagens, mas pelo relacionamento afetivo concomitante entre Lota e Mary, sua companheira de vida e de maternidade.  

O sucesso do filme já era previsto tanto pela densidade da história, quanto pelo brilhantíssimo trabalho do diretor de cinema brasileiro Fábio Barreto. Não bastasse isso, a combinação fica ainda mais interessante por contar com a atuação de Glória Pires, para mim, uma das melhores atrizes brasileiras, que autua pela primeira vez em inglês. 

Espero que o filme, seja sucesso de público dando cada vez mais visibilidade às lésbicas ainda tão vitimadas pelo preconceito e a discriminação. Eu assisti e vale muito a pena navegar na beleza dessa arte tanto do filme quanto na beleza da arquitetura mostrado no trabalho de Lota e a densidade da poesia de Bishop. Como não pode concorrer na categoria de melhor filme estrangeiro do Oscar, por ser filmado predominantemente em língua inglesa, esse filme já tão bem avaliado pela crítica acena conquistar uma vasta premiação nos renomados festivais de cinema. 

Transamérica

por Frederico Oliveira

Divulgação
O filme Transamérica é um belíssimo filme que retrata a vida de uma transexual chamada Bree Osbourne que sonha em fazer a cirurgia de redesignação sexual como o caminho para alcançar a plenitude de sua identidade feminina. Próximo de conquistar esse objetivo, Bree fica sabendo que é pai de um filho de 17 anos, e, aconselhada por sua psicóloga, vai ao encontro desse filho com uma vida desajustada e envolvimento com drogas e prostituição. 

A história tem como fundo a aventura de uma viagem que atravessa os Estados Unidos de Nova Iorque até Los Angeles na Califórnia, onde Bree terá a missão buscar e conquistar esse filho revelando a paternidade num emocionante resgate de suas origens e de sua família.  

Transamérica foi um filme de grande sucesso de bilheteria e muito festejado pela crítica de cinema, tanto que teve duas indicações para o Oscar, inclusive, de melhor atriz para Felicity Huffman, a atriz que interpretou a transexual Bree. Além disso ganhou na categoria melhor filme no renomado Festival de Cinema de Berlim, saindo vencedor na categoria melhor atriz no Festival Globo de Ouro. 

Divulgação


Lançamento: 14/06/2006
Direção: Duncan Tucker
Nacionalidade: EUA
Gênero: Drama
Duração 1h43min





No Brasil de Cris e Tati - a luta pela igualdade
por Frederico Oliveira

No Brasil de Cris e Tati - a luta pela igualdade é um documentário de pouco mais de 10 minutos que retrata o quanto no Brasil existe uma perseguição tão desumana contra aqueles que lutam pelo reconhecimento dos direitos da diversidade sexual e pela igualdade.

Essa luta sempre foi marcada pela opressão dos fundamentalistas que manipulam as massas, distorcendo a realidade a respeito da sexualidade humana, incitando o ódio e proferindo graves acusações caluniosas e difamatórias que, inclusive, causam um inestimável dano à coletividade LGBT.  

Cristiano e Tatiana, pensadores e acadêmicos, são perseguidos cotidianamente por expressarem seus argumentos baseados na ciência para a defesa dos direitos da diversidade sexual e combate a homofobia, assim como tantos outros militantes. Esse lamentável cenário demonstra suficientemente o quanto as pessoas LGBT no Brasil estão vulneráveis e ameaçadas pela simples expressão de sua condição humana. 

Tatiana Lionço é Mestre e Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília, além de professora da UniCEUB é pesquisadora nas questões relacionadas aos direitos sexuais e reprodutivos. Cristiano Lucas Ferreira é professor e ativista de Direitos Humanos. Ambos foram alvo de uma campanha caluniosa e difamatória na internet comandada pelos Deputados Jair Bolsonaro e Marco Feliciano e hoje vivem sob a constante ameaça de grupos neonazistas e de fundamentalistas religiosos. 


Jerusalém: as fronteiras do preconceito

Esse documentário me fez recordar a viagem que fiz a Israel e a Palestina. Países que vivem em constante tensão e conflito por disputa de território. Israel que tem de um lado a moderna cidade de Tel Aviv, o centro financeiro do país onde a liberdade prepondera e a tranquilidade se estabelece, e, de outro lado, Jerusalém, a capital dividida em um mundo judeu e árabe. Um muro divide o território Palestino de Israel na cidade de Jerusalém e a intolerância entre judeus e árabes impregnada de dogmas religiosos extremistas acirra ainda mais quando a questão é a homossexualidade perseguida pelo islamismo e pelo judaísmo ortodoxo. O documentário mostra jovens palestinos e israelenses homossexuais que convivem em um campo de batalha na luta pelo direito de exercerem sua identidade livres do preconceito, da discriminação e da intolerância religiosa que tanto os persegue. Vale a pena assistir esse documentário de 45 minutos que foi transmitido pelo canal GNT na semana da Diversidade Sexual em 2010.  



Documentário
Nome original: City of borders






Contra Corrente 
Direção: Javier Fuentes-León
França, Alemanha, Peru, Colômbia (2009)


Surpreendi-me com esse filme belíssimo e sensível que traz a história de Miguel (Cristian Mercado), um pescador respeitado na vila onde mora e trabalha, casado com Mariela (Tatiana Astengo). Muito próximo ao nascimento do filho do casal Miguel vive um romance com Santiago (Manolo Cardona), um artista plástico tido pelos moradores da vila como "marica". A trama envolvente mostra a relação conturbada de Miguel com sua sexualidade e retrata o preconceito do povo da vila onde a história é contada. Tem um brilhante roteiro e a fotografia é belíssima. Para aqueles que se deliciam ver filmes sobre a temática da diversidade sexual é um filme obrigatório. 

Prêmios: 
FESTIVAL DE CINEMA DE MIAMI
ganhou
2010 -Prêmio Popular - Competição Ibero-Americana - Javier Fuentes-León

FESTIVAL INTERNACIONAL DE SAN SEBASTIAN
Ganhou
2009 - Sebastian Award - Javier Fuentes-León

SUNDANCE FESTIVAL
Ganhou
2010 - Prêmio Popular - World Cinema - Drama - Javier Fuentes-León

Indicações
2010 - Grande Prêmio do Júri - World Cinema - Drama - Javier Fuentes-León
(Fonte: AdoroCinema)



"Orações para Bobby" (Prayers for Bobby)
Direção: Russell Mulcahy
EUA (2009)




Esse filme emocionante baseado em fatos reais mostra o sofrimento de um garoto homossexual que é rejeitado pela sua mãe religiosa. A história retrata a angústia vivida pelo jovem rapaz que tem dificuldades de enfrentar a sua condição de homossexualidade em razão da sua família conservadora.  

Chorei de soluçar e as pessoas que conheço, que também assistiram, choraram tanto quanto eu. Trata-se de um filme feito para a TV, mas que supera esse mote em matéria de roteiro bem amarrado. Talvez pudesse ter tido um maior investimento em termos de produção para que fosse elevado de categoria, muito embora isso, seja apenas um detalhe diante da dramaticidade da história que, inclusive, me inspirou a escrever, no ano passado, um artigo jornalístico (que pode ser lido logo abaixo). Essa inspiração me fez rebater os argumentos da homofobia religiosa e do projeto de decreto legislativo, ainda, em tramitação na Câmara dos Deputados, que tem por finalidade, sustar a resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) para permitir-se a utilização de terapias de reorientação sexual que a resolução proíbe. 

Acredito que essa história deveria entrar nas casas de inúmeras famílias brasileiras que, independente da religião ou de classe social, levam inúmeros jovens LGBT para a depressão e até mesmo ao suicídio. 

A impecável atuação de Sigouney Weaver, que interpreta a mãe do rapaz, fez com que ela fosse indicada para o Emmy 2009 e Globo de Ouro 2010 na categoria melhor atriz de filme televisivo. Não deixe de ver o trailer  Não sei indicar, mas fiquei sabendo que é fácil fazer o download do filme legendado em sites especializados.



POESIA

One Art

BY ELIZABETH BISHOP
The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.

—Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.


Fernando Pessoa


O amor é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente,
Embora às vezes doente.

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