sexta-feira, 28 de junho de 2013

O orgulho LGBT: uma luta por reconhecimento

Nesse dia 28 de junho comemora-se o dia mundial do Orgulho LGBT, em celebração à revolta de Stonewall, em Nova Iorque. Reflete-se, pois, a luta pelo reconhecimento e o orgulho de ser lésbica, gay, bissexual, travesti e transexual. Mas por que orgulhar de ser LGBT? 

A luta pelo reconhecimento parte da necessidade de romper a pecha de preconceito e a estigmatização sentida pelas pessoas LGBTs impedidas de exercitar livremente a sua condição humana. 

A diferenciação binária da sexualidade carregou o imaginário coletivo da falsa ideia de que a sexualidade humana se encaixa em dois gêneros, o masculino e o feminino, que possuem papéis distintos, definidos culturalmente e carregados por uma tradição histórica de séculos. No passado, esse binarismo da sexualidade humana foi, ainda,  mais marcante pela dominação do masculino sobre o gênero feminino.

Não estamos muito distantes das conquistas feministas que revelaram a capacidade da mulher para uma série de atribuições que antes eram, exclusivamente masculinas, a exemplo do trabalho. No entanto, na evidência de avanços decorrentes da emancipação feminina e da evolução científica, ainda vivemos num ambiente impregnado de falsas ideias em torno da sexualidade, principalmente quanto a questão gira em torno da orientação sexual e da identidade de gênero.
  
A primeira pergunta que se faz a uma mãe que está grávida é: qual o sexo da criança e dessa pergunta se esvai uma série de expectativas alimentadas por esse imaginário coletivo, consolidando, desde então, os padrões culturalmente estabelecidos pela nossa sociedade. Os indivíduos nascem com uma carga de atitudes previamente impostas sem que se verifique se este pequeno ser irá ou não se encaixar no mundo azul ou cor-de-rosa construído socialmente. Parece-me absurdo querer impor quais serão os desejos e as preferências de um ser com amplas capacidades de se desenvolver e que ainda sequer chegou a experimentar o mundo. Por que impomos a seres ainda tão jovens quais deverão ser suas preferências e quais serão suas necessidades de acordo com sua personalidade e a sua intimidade?

Infelizmente, a nossa sociedade ainda carrega a ignorância a respeito da sexualidade humana, refletida pela discriminação de que é errado ser homossexual ou transgênero. Mas quem disse que o certo é atender equivocados padrões pré-definidos que não correspondem às necessidades e aos anseios daqueles que não se encaixarão nesses padrões para serem felizes? Parece-me um grande contra-senso à natural vocação humana da busca pela felicidade.

Ser lésbica, gay, travesti ou transexual é transgredir com esses padrões  injustamente estabelecidos pela sociedade. Ser lésbica, gay, travesti ou transexual é encarar as constantes  humilhações carregadas desde a infância e ser gente grande sem ter a vergonha de ser feliz. Ser lésbica, gay, travesti ou transexual é enfrentar o medo, a vergonha, o escárnio, a estigmatização, a demonização, o terror, a indiferença para se impor e dizer aqui estou, sou gente e por ser gente quero contribuir e ser aceito nessa vida em sociedade. Ser gay, lésbica, bissexual, travesti ou transexual é sair de um armário e dos guetos fruto da opressão e do medo e responder que esse traço diferente da sua sexualidade não diminui em nada a sua condição humana.

O orgulho LGBT é fruto da busca de ampliação de direitos decorrentes do sentimento coletivo das injustiças sofridas dessa equivocada cultura heteronormativa. As pessoas LGBTs lutam pelo reconhecimento e visibilidade como forma de arrancá-los da situação paralisante do rebaixamento, para que possam integrar-se na sociedade livres das amarras que entravam sua condição humana.

Como menciona o filósofo e sociólogo alemão Axel Honneth, "os indivíduos precisam se saber reconhecidos também em suas capacidades e propriedades particulares para estar em condições de autorrealização, eles necessitam de uma estima social que só pode se dar na base de finalidades partilhadas em comum" (Luta por reconhecimento)

Esse reconhecimento, esse orgulho de ser lésbica, gay, bissexual, travesti ou transexual é de suma importância para romper esses equivocados padrões heteronormativos. Ser lésbica, gay, bissexual, travesti ou transexual é combater a usurpação negativa dirigida às suas sexualidades e orgulhar-se de sua condição humana, enfrentando de cabeça erguida a hostilidade de uma sociedade que vive na sombra do véu de uma ignorância ditada pelos estereótipos construídos por uma cultura heteronormativa falaciosa e opressora.



Nenhum comentário:

Postar um comentário