por Frederico Oliveira
É lamentável
saber que atravessamos o século XXI num cenário em que milhares de pessoas
sofrem cotidianamente por serem apontadas como anormais, doentes ou abomináveis, contradizendo os dados científicos que comprovam que a homossexualidade não é doença ou anormalidade.
É preciso refletir a respeito do sofrimento daqueles que vivenciam a constante rejeição externalizada em chacotas, ofensas verbais e até mesmo agressões físicas que acompanham o curso da vida de diversos indivíduos de orientação
homossexual e trangêneros.
Será que as pessoas andam tão insensíveis a ponto de não
perceberem a angústia vivenciada por seres humanos marginalizados, repreendidos, humilhados e constrangidos pelo simples fato de não se
adequarem aos padrões sociais construídos de maneira acrítica e repletos de preconceitos e distorções da realidade da sexualidade humana?
A
ciência tem demonstrado de maneira conclusiva que a homossexualidade não é patologia, ou desvio de comportamento, mas apenas um componente da sexualidade. Uma série de centros de pesquisas e universidades renomadas divulgaram e divulgam estudos com rigorosas metodologias que comprovam suficientemente que a heterossexualidade não é um dado comum na espécie humana, assim como em outras espécies de animais. As pessoas não se tornam homossexuais ou seguem esse destino por opção, as pessoas simplesmente são homossexuais como um componente natural que as leva à atração por seres do mesmo sexo. Desse modo, os avanços científicos deveriam direcionar a nossa sociedade a quebrar o padrão heteronormativo equivocadamente construído diante da sexualidade humana tal como ela é.
Até quando algumas pessoas vão se contrapor à lógica e a coerência dos estudos detidos a respeito do comportamento e da sexualidade para justificar seus preconceitos e sua hostilidade com relação à homossexualidade?
Por que ainda são difundidas por fundamentalistas interpretações
distorcidas de livros religiosos, a exemplo da Bíblia, para contrapor à lógica e a coerência das mais
sérias pesquisas realizadas a respeito da sexualidade? Afinal de contas, como devemos dirigir as ações humanas? De acordo com a crença e confiança de
coisas que não temos provas? Será que podemos utilizar a referência de antigos escritos traduzidos por diversas vezes até chegar à tradução atual de relatos históricos - que estão há séculos de
distância da nossa realidade - para dizer que a homossexualidade é algo
abominável?
Enquanto muitos ficam presos nessa conversa fiada de uma interpretação
descontextualizada dos relatos históricos contidos na Bíblia, os dados da homofobia são
alarmantes, e, esses dados, infelizmente são alimentados pela propagação vertiginosa de interpretações incompatíveis com os mais recentes estudos da ciência.
É impressionante saber que grande parte dos agressores são
pessoas da convivência próxima com a vítima sendo 38,2% familiares e 38,2% vizinhos. Segundo a pesquisa, 42% das violações são cometidas dentro de casa,
contra 30,8% nas ruas, 4,6% no local de trabalho, 5,5% em instituições
governamentais e 17, 1% em outros locais.
De acordo com o referido relatório,
a violência psicológica é predominante em todos os locais de ocorrência de
violações. “Em casa, a violência física fica em segundo lugar, com 17,2% do
total de ocorrências, seguida da discriminação (16,6%), da negligência (12,1%) e
da violência sexual (7,5%). Na rua, por sua vez, a discriminação vem em segundo
lugar, com 24,2%, seguida da violência física, com 19% e da violência sexual,
com 3,8% das ocorrências. Em instituições governamentais, a discriminação
também está sem segundo lugar, com 22,5%, seguida por outras
violações, com 12,8% e pela violência física, com 10,2%. Finalmente, nos locais
de trabalho, acontecem violências psicológicas (53,2% das vezes),
discriminações (33,5%) e violências institucionais (8,1%).”
É mais alarmante ainda saber que a maior parte da violência
física é contabilizada por homicídios motivados pela homofobia “os dados apontam para o predomínio de notícias sobre
homicídios, com 78,6% do total de violências físicas noticiadas (seguidas de
lesão corporal, com 13,7% e tentativa de homicídio, com 6,5%).
No Brasil temos muito a caminhar nessa luta de combate a homofobia com a efetivação de políticas públicas capazes de garantir o reconhecimento e o respeito dos direitos da diversidade sexual. Todo o ser humano tem o direito de ser o que é, cabendo ao Estado protegê-lo das violações sofridas de modo a atender o seu bem estar. É preciso ações mais enérgicas no campo da educação, da saúde, bem como a aprovação da PL 122/2006 para a criminalização da homofobia, nos mesmos moldes que no crime de racismo. O Estado que que não protege os seus se torna conivente com as práticas de violações, cabendo sua imediata resposta, para atender os objetivos constitucionais da eliminação de todo e qualquer vestígio de marginalização e discriminação para a ampliação da cidadania das pessoas LGBT.
Nesse dia internacional de combate à homofobia, acredito que é necessária mais sensibilização e conscientização para a diminuição da ignorância e do preconceito tão arraigado em nossa sociedade. Talvez um dia será possível alcançar uma ambiência ética em que as pessoas serão respeitadas independente de suas características físicas, cor da pele, religião, orientação sexual ou identidade de gênero, mas por suas atitudes colaborativas para o respeito mútuo.
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