"Orações para Bobby" (Prayers for Bobby)
Direção: Russell Mulcahy
EUA (2009)
Esse filme emocionante, baseado em fatos reais, mostra o sofrimento de um garoto homossexual que é rejeitado pela sua mãe religiosa. A história retrata a angústia vivida pelo jovem rapaz que tem dificuldades de enfrentar a sua condição de homossexualidade em razão da sua família conservadora.
Chorei de soluçar e as pessoas que conheço, que também assistiram, choraram tanto quanto eu. Trata-se de um filme feito para a TV, mas que supera esse mote em matéria de roteiro, que me pareceu muito bem amarrado. Talvez pudesse ter tido um maior investimento em produção para que fosse elevado de categoria, muito embora isso, seja apenas um detalhe diante da densidade da história que me inspirou a escrever, no ano passado, um artigo de opinião (que pode ser lido logo abaixo). Essa inspiração me fez rebater os argumentos da homofobia religiosa e do projeto de decreto legislativo em tramitação na Câmara dos Deputados, que tem por finalidade, sustar a Resolução 001/1999 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) para permitir a utilização de terapias de reorientação sexual, proibidas na referida resolução.
Acredito que essa história deveria entrar nas casas de inúmeras famílias brasileiras que, independente da religião ou de classe social, levam inúmeros jovens LGBT para a depressão e até mesmo ao suicídio.
A impecável atuação de Sigouney Weaver, que interpreta a mãe do rapaz, fez com que ela fosse indicada para o Emmy 2009 e Globo de Ouro 2010, na categoria melhor atriz de filme televisivo. Não deixe de ver o trailer Não sei indicar, mas fiquei sabendo que é fácil fazer o download do filme legendado em sites especializados.
Leiam o artigo:
Político e homofobia religiosa
Frederico B. Oliveira
02 de março de 2012 (sexta-feira)Será que as passagens bíblicas utilizadas para justificar a homofobia de certos grupos religiosos podem ser lidas de forma isolada ou sem se avaliar o contexto da época em que foram escritas? Politicamente, não seria prudente discutir religião em um Estado laico, mas quando convicções religiosas invadem o cenário político como justificativas para projetos de leis que fomentam a discriminação, o assunto precisa ser colocado em pratos limpos. Faço essa avaliação em razão dos argumentos homofóbicos articulados por uma numerosa bancada evangélica que integra o Congresso Nacional, a exemplo do projeto do deputado federal João Campos, que pretende sustar a libertária conquista de proibição do tratamento para a “cura” da homossexualidade pela psicologia. Percebe-se, pois, a contradição desses segmentos religiosos ao interpretar a Bíblia com provocações que desembocam na incitação à discriminação e à intolerância combatidas por Jesus Cristo.
As passagens para justificar a homofobia deles: “Não te deitarás com um homem, como se fosse mulher: isso é uma abominação” e “Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometerão uma coisa abominável. Serão punidos de morte e levarão a sua culpa” (Levítico 18, 22 e 20, 13).
No entanto, eles esquecem que o mesmo livro sagrado também diz que é abominação comer animais aquáticos que não tenham barbatanas ou escamas, bem como algumas aves, como a avestruz e a carne de porco. A mulher é impura após dar a luz, durante o período da menstruação e todo homem que tiver fluxo de sêmen é imundo. Entre outras condutas proibidas, não se permite comer nada que contenha sangue e o cabelo não pode ser cortado “em redondo” e a barba não pode ser raspada pelos lados. A lepra é uma maldição porque o leproso é impuro e a escravidão dos estrangeiros é permitida (Levítico 11; 12, 2; 15, 16-18 e 25-31; 19, 26-27; 25, 42-45).
Mais a frente, no mesmo livro sagrado adotado pelos cristãos, Jesus Cristo foi condenado à morte por ter agido de forma diferente e por combater os preconceitos de sua época, rompendo com uma série de costumes. Ele andava com pescadores pobres, mulheres, leprosos e prostitutas, modificando o costume de se guardar o sábado, realizando curas, milagres e ajudando pessoas inválidas, o que, nesse dia, segundo o Velho Testamento, era proibido. Deixou o que deve ser (ou pelo menos deveria ser) a essência do cristianismo no mandamento maior de amor ao próximo ao dizer: “Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” (João 13, 34).
Afinal de contas, se eles se dizem cristãos, qual o exemplo que essa bancada evangélica deve seguir? O de Jesus Cristo que combatia a intolerância, promovendo curas e ajudando os inválidos? Ou o exemplo de uma época em que o véu da ignorância pairava sobre a humanidade a que Jesus Cristo veio salvar e trazer novos ensinamentos? Por que ao invés de elaborarem projetos de leis que reduzem a condição de cidadania dos homossexuais, não se preocupam com questões sociais, promovendo políticas públicas de combate a miséria e a marginalização pregada pelo Messias, atendendo assim os desafiadores objetivos da República Federativa do Brasil, como manda a Constituição?
Por outro lado, esquecem esses, dessa bancada evangélica, que as justificativas de suas concepções religiosas, incoerentes até mesmo com a evolução da história bíblica, não podem ser consideradas para a realização de políticas de institucionalização da discriminação e do preconceito. O mandamento constitucional - o único válido para a obediência de todos os Poderes do Estado - prescreve que essa República Federativa é constituída como um Estado laico que tem por objetivo atender o bem de todos para a promoção de uma sociedade fraterna, livre, justa, pluralista e sem preconceitos. Afinal, as únicas curas previstas nos objetivos constitucionais da nação brasileira é a da pobreza, da marginalização, das desigualdades sociais e regionais e, também, a da discriminação. (Fonte: Jornal O Popular. Opinião, Goiânia, 02/03/2012)
Nenhum comentário:
Postar um comentário