Eu, eu mesma e a minha Fé
Diz a bíblia que Noé teria levado em sua arca uma dupla de
animal de cada espécie, além de sua família, atendendo aos desígnios do
Senhor. O objetivo era repovoar a terra
com os puros que Noé levava. Após o dilúvio, criado da ira de Deus para lavar a
terra dos homens e de qualquer ser vivo que havia criado, uma nova humanidade
surgiria.
Nem tudo são flores desde a “história” da Arca de Noé.
Na última semana tivemos a notícia de uma casa que foi demolida
na cidade de São Paulo para dar lugar a um templo. Na casa animais foram mortos
e outros tantos abandonados ao relento. A dona da casa, uma pastora, que havia
se comprometido com grupos de defesa de animais que a demolição se daria após o
encontro de um lugar para todos, não cumpriu a sua promessa.
Nada contra a construção de templos, a Constituição é clara,
o direito de Fé é princípio fundamental. Fé esta que aos olhos do Senhor também
sugere que os animais são filhos de Deus, protegidos da grande inundação que
lavou o mundo de homens corruptos, interesseiros e violentos.
Fé esta que sugere que amemos uns aos outros, como nos amou o
Senhor. Esta, talvez, seja a maior contradição daqueles que, em nome da Fé,
reconhecem o amor apenas aos que comungam da sua crença. Fé esta que, em nome
de preservar o “seu” amor, desqualificam cidadãos como de quinta categoria e
demonizam o amor entre pessoas do mesmo sexo, demonizam o reconhecimento da
identidade de gênero, demonizam a construção de uma família que não seja aquela
concebida sob o seu manto.
Em nome da Fé temos testemunhado a construção de um país que
caminha na contramão da história. Histórias de ódios, de intolerâncias, de
indiferenças. Em nome do Poder da Fé, vale tudo.
Um país que se omite a morte de cada filho teu, não pode ser
livre. Um país que não atende ao mínimo da dignidade de seus habitantes, não
pode ser digno. Um país cuja crença de alguns predomina e prevalece sobre de
todos os outros, não pode ser justo.
A história de um país é contada a partir de suas lutas, de
suas vitórias, de suas derrotas. Que história desejamos contar para as futuras
gerações?
Os inúmeros atos que acontecem pelo país, no dia de hoje, em
memória de mais vítimas da violência que tomou conta da população LGBT, com a
morte de João Antonio Donati, morto em Inhumas, Goiás; da travesti que foi
atirada de carro em movimento e morreu no dia 9, na Vila Galvão; e do incêndio
no Centro de Tradições Gaúchas, onde será realizado um casamento, que inclui
cidadãos LGBTs, devem impulsionar uma agenda de tantos outros nos dias que se
seguem, para que não caiam no esquecimento daqueles que tombaram e hoje apenas
computam a triste estatística da construção deste país.
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