quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Homossexualismo: um termo que reproduz homofobia

por Frederico Oliveira

Outro dia fiquei incomodado com uma pessoa defendendo a utilização do termo "homossexualismo", tentando fazer um paralelo do emprego do sufixo "ISMO" com sua utilização nas ideologias e religiões como: socialISMO, comunISMO, anarquISMO, facISMO, nazISMO, catolicISMO, espiritISMO etc., justificando, assim, que o uso do termo não é ofensivo à dignidade dos homossexuais. 

No entanto, após evidências e importantes conclusões científicas, é facilmente verificável o equívoco na utilização do termo "homossexualismo" e no quanto esse termo reforça e reproduz o preconceito fruto da falta de conhecimento acerca da sexualidade humana de um tempo em que as práticas homoeróticas eram consideradas como patologia. 

Defender o uso da palavra "homossexualismo", sob a alegação de que se trata de uma ideologia é no mínimo fora do contexto. 

Orientação sexual e sexualidade não é, e, jamais pode ser pensada como ideologia, mas apenas um modo como as pessoas dirigem sua atração e seu afeto sexual. Os movimentos sociais de defesa dos direitos da população LGBT não pregam a orientação homossexual como instrumento de dominação de um modelo político ou padrão social, razão suficiente para demonstrar que a homossexualidade não se trata de uma ideologia. 

Os movimentos LGBTs lutam pelo reconhecimento da diversidade sexual para o combate ao preconceito e a discriminação decorrente de um padrão heteronormativo impregnado na nossa sociedade. Os ativistas lutam contra a dominação opressora do gênero masculino, própria de uma cultura machista que provoca uma inferiorização social tanto da mulher, como dos gays, das lésbicas, das travestis e das transexuais. A luta não é para a criação de um padrão homossexual, nem mesmo de sua utilização como instrumento de dominação, mas pelo reconhecimento e respeito da pluralidade da sexualidade humana como um dado da realidade para a justa e adequada distribuição de direitos. 

As práticas homoeróticas foram consideradas no passado, como anormalidade ou perversão psíquica, tal como os distúrbios psicossexuais catalogados como patologias pela psiquiatria e pela psicologia, como é o caso do fetichISMO, o voyerISMO, o exibicionISMO, o sadISMO; o masoquISMO; a pedofilia e a zoofilia. Os distúrbios psicossexuais são comportamentos considerados prejudiciais que impedem o desenvolvimento pleno do indivíduo para as suas atividades habituais e são decorrentes de traumas de um conturbado desenvolvimento da sexualidade.  

Foram longos anos de estudo e pesquisas em diversos ramos da ciência, para a descaracterização dessa visão patológica para o reconhecimento de que a orientação homossexual não se enquadra como distúrbio psicossexual, mas de apenas um dado natural da sexualidade humana. 

A Associação de Psiquiatria Americana (APA), em 1973, retirou a homossexualidade de seu "Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Distúrbios Mentais". A OMS declarou no dia 17 de maio de 1990, que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão, retirando-a da Classificação Internacional de Doenças (CID). No Brasil o Conselho Federal de Psicologia, por meio da Resolução n. 1 de 23 de março de 1999 proibiu a utilização de terapias de tentativas de reversão da homossexualidade por reconhecer que não se trata de desvio ou  distúrbio passível de tratamento. A biologia reconheceu evidências da homossexualidade em milhares de espécies de animais sexuados, confirmando que se trata de um dado natural da sexualidade.  

Ora, o emprego do sufixo "ISMO" remonta o equívoco científico do passado em considerar as práticas homoeróticas como patologia, pois, afinal de contas, o mesmo sufixo acompanha a maioria dos distúrbios psicossexuais. Se o sufixo "ismo" é utilizado para a caracterização de uma patologia, vejo que a utilização do termo "homossexualismo" considerara como correto o equivocado enquadramento das práticas homoeróticas a uma perversão psíquica. 

A homossexualidade é a orientação sexual cujos indivíduos direcionam seus desejos afetivos e sexuais a outros do mesmo sexo biológico. O sufixo "DADE" corresponde a um modo de vida sexual e afetiva. A linha que dirige a atração afetiva e sexual é denominada de orientação sexual, considerada dentre elas a heterossexualidade, a homossexualidade e a bissexualidade. 

Dessa forma, dizer "homossexualimo" é ressuscitar um passado superado pela ciência, reproduzindo a homofobia pelo reforço à essa visão patológica que agride a dignidade e desrespeita a condição dos homossexuais. Dizer "homossexualismo é menosprezar um dado natural da sexualidade humana de um dos modos mais comuns do que se possa parecer de como as pessoas dirigem sua atração sexual e seu afeto. 


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